Onde está o seu racismo?

Tenho observado, na verdade desde que era pequena, que tinha um tratamento diferenciado...

Quando nasci, meu pai que é mestiço de português, com um minha avó que era filha de escrava. Ele é muito alvo e com cabelo crespo ,então na minha certidão de nascimento colocaram minha cor como branca. Na minha família, minha mãe é mulata,  sempre evitou comentar sobre seus antepassados negros, mas sempre que conversava, procura enfatizar seu avô era italino, mas nunca a parte negra da família. Cresci neste ambiente, sem saber realmente o que era e sem muitas explicações, via que meus familiares adoram se misturar, segundo eles para melhorar a raça. Se nascia alguém com feições de negro, não era considerado bonito...Para minha família por exemplo eu era branca. Pode? por ter cor de pele mais clara...

Na minha escola, eu também não tinha esta compreensão de raça, estudei na ETERJ, uma escola técnica chimfrim da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Onde os professores, não ensinavam estas coisas de raça e nem como se posicionar na sociedade, tinha professor que olhava para mim, pensava, pensava e me chamava de Morena..outros me excluíam de passeios por me achar feia. Nunca pude ir ao Faustão, pois só ia nestas excursões, pessoas brancas com cabelos escorridos e longos. As meninas do colégio sempre ficavam na primeira fila do programa e a professora na época não me achava adequada, sempre me dava mil desculpas para eu não ir...Eu nunca entendia...

Foi quando na época com 16 anos minha mãe mandou colocar um mega hair em mim, de 60cm de cabelos cacheados. Meninas como comecei a ser bem tratada...Os rapazes começaram a olhar para mim, os professores me tratando bem...O que um cabelo pode fazer?

Lembro que quando era criança, assistia muito a Xuxa, com suas paquitas loiríssimas, E aqueles concursos para ser Paquita? Naquela época não tinha nenhuma negra no páreo! E o pessoal achava tudo aquilo normal. Acho que o pessoal da época ficou com este padrão de beleza, eu só sei que as meninas loiras se davam muito bem, namoravam pessoas interessantes, eram  sempre as mais bonitas da sala etc...acho que a Xuxa e a televisão Brasileira estragou aquela geração de 80|90, não tinha negros na TV representando a grande população negra brasileira, claro que hoje há bem poucos, ainda por causa da lei das Cotas...

Acho que o único momento em que eu me lembro de ter se sido representada, foi quando vi a Taís Araujo, que tinha mais ou menos  a minha idade, representando a Chica da Silva naquela novela da Manchete, foi a primeira vez que olhei para minha cor e falei, nossa esta menina se parece comigo....Já reparam na novelinha Malhação quando tem um negro, este negro é sempre o maluquinho, o comediante..nunca o galã, porquê? Nunca vi um negro nesta novela fazendo o principal par romântico e o Big Brother deste ano o único negro quando perguntado pelo apresentador do programa, Pedro Bial, se era a favor de cotas para negros, no Big Brother, o participante, respondeu, com a seguinte frase: “Não! Porque eu acho que não tem que ter cota pra nada. A gente é igual, cara. Embaixo da pele é sangue, e o sangue é vermelho.”  hahaha, tenha dó. Isso que um país racista quer ouvir.

Bem escrevi este artigo para ficar claro que nós negros, precisamos ter bem claro nossas origens, cultura, o que vejo é que o país tenta sempre mascarar isso, tentando nos fazer de invisíveis e que o racismo não existe. Que o Brasil é um pais multicultural e que não há tanta diferença, Mas o que passam para gente é justamente o contrário que: Ser negro é ruím, ter cabelo duro é ruim, ter nariz chato é feito, quem é negro tem baixa escolaridade,  que tem a cor do pecado. Não me admira minha família ter ânsia por miscigenar, os jogadores de futebol só procurar loiras para casar e negam até o último segundo que são negros. (e a Europa toda ri..., ai que vergonha)

Por isso, negros, negras, mulatas, mulatos, moreninhas, moreninhos do meu país , amem a sua raça, o seu cabelo, respeite a religião do povo afro, procure saber quem são. Você não pertence a uma cultura afro-brasileira,  Você nunca foi incluído no Brasil, sempre foi excluído. Você pertence à uma cultura afro. Pensem nisso... pois só saberemos onde iremos se soubermos muito bem quem somos e assim traçaremos onde podemos ir. 

Beijocas,